domingo, 10 de janeiro de 2010

Confraternização

Passava da meia noite quando chegamos a um boteco sujo ao final de uma rua escura, de cheiro inidentificável. Era a porra da festa de confraternização de fim de ano da repartição. Puta que pariu! O ano inteiro odiando aqueles parasitas, pedindo a morte da supervisora flácida e evitando o estagiário que eu queria comer a todo custo. Não que eu fosse conscienciosa, mas não há um lugar discreto para comer a carne no recinto em que ganho o pão e o filho da puta é um duro (no pior sentido) e eu não queria pagar motel. E agora estava eu ali com o presente comprado na loja de 1,99 para sei lá quem.

Os cumprimentos, o riso forçado, as felicitações, elogios protocolares, uma porra de uma cerveja quente e um bico numa roska de pêssego da colega de olho roxo que “caiu no banheiro”. Mais cumprimentos, formalidades, uma roska de caju e mais uma cerveja quente. Consegui sentar, embora, ao lado da vaca do almoxarifado, aquela crente com cheiro de talco antiséptico Granado e arruda. Um riso forçado aqui, outro ali, uma roska de kiwi, um chopp de vinho mentolado, uma cerveja nem tão quente assim, um riso mais aberto, pessoas menos desinteressantes.

Apesar de imaginar o orgasmo que terei ao chegar a casa e retirar essa porra dessa sandália de salto que está consumindo meu dedo mindinho, observo a decoração do lugar. É algo rústico, mas sei que existe uma proposta, deve obedecer a uma tendência. Os garçons são corteses e nunca nos deixam de copo vazio. Vejo a secretária sair do interior do bar limpando algo próximo a um coquetel de leite condensado do canto da boca e, logo em seguida, aparece o chefe, pelo mesmo caminho, com seu ar imperioso, impecável, respeitável, impotente, digo, nente, com o zíper aberto.

Mais duas roskas de cajarana, um copo de pinga, umas azeitonas, três cervejas, cinco telefonemas do noivo insone em casa, um coquetel de jaca com caqui, e passo a perceber que a colega do almoxarifado é muuuuuito legal, a supervisora é até um pouco riiijjj...riiijjjjjja. Ual, que cerveja quente deliciosa! Parece até que estamos em um pub irlandês. Ai, que lugar de muito bom gosto, com tantos garçons amigos, tantos amigos legais e, o melhor de tudo, o estagiário tarado acabou de chegar.

Um coquetel de umbu com beribéri, uma azeitona, muitos contatos, conversas interessantes e descobri até que o estagiário gatinho era primo em terceiro grau do 5° assistente do 3° assessor do diretor executivo substituto, que, por sua vez, foi amigo de infância do primo da cunhada da minha irmã. Percebo que a quantidade de convidados triplicou e a pista de dança pareceu minúscula quando começou a tocar ABBA. Que maravilha é poder confrrrrrra... confrrrrrraternizar com colegas tão bonitos e legais. Essas pess...ssoas rrrralam o anus inteiro (opssss) o ano inteiro, dão o melhor de sis. Percebo que sssssssomos um time e que a vida é bela. Meu quase ex-futuro noivo envia dois torpedos homicidas, devidamente ignorados. Porrr...rrra será que ele não entende que estou com pess...pesssssoas lindasssss e que a cerveja quente é uma proposta?

Depois de cinco vodkas, duas Pirassssssunungas, um Old Eight, descubro que o estagiário gatinho é, na verdade, o boy, mas a essa altura só consigo imaginar orgasmos múltiplos sem ao menos precisar tirar a sandália de salto que nem está tão apertada assim. Três saideiras, cinco macarenas, quatro azeitonas, o boy, um banheiro, mais três roscas de sabores exóticos, o dia seguinte, amnésia, a kitch do boy, a colega crente do almoxarifado, o chefe, uma iguana, o garçom amigo, um mendigo, um urso de pelúcia e uma ardência desgraçada no final da espinha.


(i) moral da história: evite azeitonas.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Roteiro para um Docudrama de Amor

Cooooooooooooooooooooooooooooooooooooorta!
Cena I – Interna/Externa- Dia/noite- Sol/Chuva - Plano Geral – Take I.
Você idealiza e espera alguém que “caiba em seus sonhos”. Se essa pessoa não aparecer, ótimo, continuará idealizando. Mas, se aparecer, duas coisas podem acontecer.


Cena I – Interna/Externa- Dia/noite- Sol/Chuva - Plano Geral – Take II.
Se essa pessoa couber exatamente em tudo o que idealizou, ótimo! É hora de rodar uma comédia romântica, um conto de fadas, uma fábula, um dramalhão em que alguém morre de leucemia. Mas, se essa pessoa não se encaixar exatamente, duas coisas podem acontecer.

Cena I – Interna/Externa- Dia/noite- Sol/Chuva -Plano Conjunto – Take I
Se você bater o pé e disser que não, ótimo! Continuará idealizando. Mas se conseguir aproximar a câmera um pouco mais, passará a ver essa pessoa com um pouco mais de detalhes, mas, ainda, de longe. Se sua opção for última, duas coisas podem acontecer.

Cena I – Interna/Externa- Dia/noite- Sol/Chuva - Plano Conjunto – Take II
Você pode continuar querendo ver essa pessoa de longe, longe, cada vez mais longe. Mas, se optar para um plano americano, duas coisas podem acontecer.


Cena I – Interna/Externa- Dia/noite- Sol/Chuva - Plano Americano – Take I.
Você pode não gostar do termo plano “AMERICANO”, se revoltar e parar de rodar seu documentário nos moldes dos enlatados estadunidenses. Se isso acontecer, ótimo! Poderá se aprofundar no construtivismo russo, ou no neo-realismo italiano, no cinema novo, na pornochanchada, enfim... Mas também pode optar por um segundo take, mas, dessa vez, em plano médio. Se essa for sua escolha, duas coisas podem acontecer.

Cena I – Interna/Externa- Dia/noite- Sol/Chuva -Plano Americano para Médio – Take I para II
Se não gostou do que viu no plano médio, pare agora mesmo com o cinema e tente xilogravura,
pintura, escultura, artesanato, bordado, psicodrama, psiquiatria ou psicografia. Mas se a luz captada e refletida pela imagem invadir o obturador e embaçar a visão do todo, apesar de aquela pessoa não se encaixar exatamente no “tipo” que estabeleceu para a personagem, duas coisas podem acontecer.

Cena I – Interna/Externa- Dia/noite- Sol/Chuva – Plano Médio – Take III
Você perderá a visão. Pronto. Terá que se contatar com o “tato”. Ou, você perderá “visão”, mas continuará rodando, um plano sequencia sem se importar com os “erros” de gravação, roteiros, ordens do dia, e enquadrará a personagem do seu docudrama em primeiro plano. Se esse for o rumo da filmagem, duas coisas podem acontecer.

Cena I – Interna para Externa- Dia para noite- Chuva para Sol – Primeiro Plano para Plano Próximo para Plano Detalhe – Take IV
Se, apesar de chegar a esse ponto, quiser abortar a filmagem até encontrar alguém que se enquadre no tipo pré-estabelecido, apesar de ter gasto toda a película e não ter mais como manter a equipe, saiba que essa pessoa saiu no meio da projeção. Se correr, quem sabe, conseguirá alcançá-la na saída do cinema. Entretanto, se quiser continuar a rodar, um cem mil número de coisas podem acontecer apesar da locação, das condições de filmagem, dos improvisos, do orçamento e das inevitáveis adaptações de roteiro.


Açãoooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo!




(à Dziga e Zvonka)

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A Paixão Segundo GH IV

Enontrei uma barata na cozinha
Eu olhei pra ela
Ela olhou pra mim

A Paixão Segundo GH III

Toda Vez que eu chego em casa
A barata da vizinha tá na minha cama

A Paixão Segundo GH II

Quem quer casar com a Senhora Baratinha
Que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha

A Paixão Segundo GH I

A Barata diz que tem sete saias de filó.
É mentira da barata, ela tem é uma só.
Ah ra ra, iá ro ró, ela tem é uma só !
A Barata diz que tem um anel de formatura

É mentira da barata, ela tem é casca dura
Ah ra ra , iu ru ru, ela tem é casca dura!

Vire a lata

Atrás do Trio Elétrico (pretensão e água benta...)

Quem sou eu