domingo, 23 de novembro de 2008

OS (IN) CLASSIFICADOS

HOMEM PROCURA MULHER
Bonito, alto-astral, sincero procura bonita, alto-astral, sincera
Bonito, alto-astral, sincero procura bonita, alto-astral, sincera
Bonito, alto-astral, sincero procura bonita, alto-astral, sincera
Bonito, alto-astral, sincero procura bonita, alto-astral, sincera
Bonito, alto-astral, sincero procura bonita, alto-astral, sincera

Bonito, alto-astral, sincero procura bonita, alto-astral, sincera
Maldito procura Maldita
Bonito, alto-astral, sincero procura bonita, alto-astral, sincera
Bonito, alto-astral, sincero procura bonita, alto-astral, sincera
Bonito, alto-astral, sincero procura bonita, alto-astral, sincera
Bonito, alto-astral, sincero procura bonita, alto-astral, sincera
Bonito, alto-astral, sincero procura bonita, alto-astral, sincera
Bonito, alto-astral, sincero procura bonita, alto-astral, sincera
Bonito, alto-astral, sincero procura bonita, alto-astral, sincera
Bonito, alto-astral, sincero procura bonita, alto-astral, sincera
Bonito, alto-astral, sincero procura bonita, alto-astral, sincera
Bonito, alto-astral, sincero procura bonita, alto-astral, sincera
Bonito, alto-astral, sincero procura bonita, alto-astral, sincera
Bonito, alto-astral, sincero procura bonita, alto-astral, sincera
HOMEM PROCURA HOMEM
Bonito, alto-astral, sincero procura bonito, alto-astral, sincero
Bonito, alto-astral, sincero procura bonito, alto-astral, sincero
Bonito, alto-astral, sincero procura bonito, alto-astral, sincero
Bonito, alto-astral, sincero procura bonito, alto-astral, sincero
Bonito, alto-astral, sincero procura bonito, alto-astral, sincero
Maldito procura Maldito
Bonito, alto-astral, sincero procura bonito, alto-astral, sincero
Bonito, alto-astral, sincero procura bonito, alto-astral, sincero
Bonito, alto-astral, sincero procura bonito, alto-astral, sincero
Bonito, alto-astral, sincero procura bonito, alto-astral, sincero
Bonito, alto-astral, sincero procura bonito, alto-astral, sincero
Bonito, alto-astral, sincero procura bonito, alto-astral, sincero
Bonito, alto-astral, sincero procura bonito, alto-astral, sincero
Bonito, alto-astral, sincero procura bonito, alto-astral, sincero
Bonito, alto-astral, sincero procura bonito, alto-astral, sincero
Bonito, alto-astral, sincero procura bonito, alto-astral, sincero
Bonito, alto-astral, sincero procura bonito, alto-astral, sincero
Bonito, alto-astral, sincero procura bonito, alto-astral, sincero
MULHER PROCURA HOMEM
Bonita, alto-astral, sincera procura bonito, alto-astral, sincero

Bonita, alto-astral, sincera procura bonito, alto-astral, sincero
Bonita, alto-astral, sincera procura bonito, alto-astral, sincero
Bonita, alto-astral, sincera procura bonito, alto-astral, sincero
Bonita, alto-astral, sincera procura bonito, alto-astral, sincero
Bonita, alto-astral, sincera procura bonito, alto-astral, sincero
Bonita, alto-astral, sincera procura bonito, alto-astral, sincero
Maldita procura Maldito
Bonita, alto-astral, sincera procura bonito, alto-astral, sincero
Bonita, alto-astral, sincera procura bonito, alto-astral, sincero
Bonita, alto-astral, sincera procura bonito, alto-astral, sincero
Bonita, alto-astral, sincera procura bonito, alto-astral, sincero
Bonita, alto-astral, sincera procura bonito, alto-astral, sincero
Bonita, alto-astral, sincera procura bonito, alto-astral, sincero
Bonita, alto-astral, sincera procura bonito, alto-astral, sincero
Bonita, alto-astral, sincera procura bonito, alto-astral, sincero
Bonita, alto-astral, sincera procura bonito, alto-astral, sincero
Bonita, alto-astral, sincera procura bonito, alto-astral, sincero
Bonita, alto-astral, sincera procura bonito, alto-astral, sincero
MULHER PROCURA MULHER
Bonita, alto-astral, sincera procura bonita, alto-astral, sincera
Bonita, alto-astral, sincera procura bonita, alto-astral, sincera
Bonita, alto-astral, sincera procura bonita, alto-astral, sincera
Bonita, alto-astral, sincera procura bonita, alto-astral, sincera
Bonita, alto-astral, sincera procura bonita, alto-astral, sincera
Bonita, alto-astral, sincera procura bonita, alto-astral, sincera
Bonita, alto-astral, sincera procura bonita, alto-astral, sincera
Bonita, alto-astral, sincera procura bonita, alto-astral, sincera
Bonita, alto-astral, sincera procura bonita, alto-astral, sincera
Bonita, alto-astral, sincera procura bonita, alto-astral, sincera
Bonita, alto-astral, sincera procura bonita, alto-astral, sincera
Bonita, alto-astral, sincera procura bonita, alto-astral, sincera
Bonita, alto-astral, sincera procura bonita, alto-astral, sincera
Bonita, alto-astral, sincera procura bonita, alto-astral, sincera
Maldita procura Maldita
Bonita, alto-astral, sincera procura bonita, alto-astral, sincera
Bonita, alto-astral, sincera procura bonita, alto-astral, sincera
Bonita, alto-astral, sincera procura bonita, alto-astral, sincera
Bonita, alto-astral, sincera procura bonita, alto-astral, sincera
Bonita, alto-astral, sincera procura bonita, alto-astral, sincera

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A Liberdade é perto do Paraíso


O tempo, quando inventa de se vestir de sucessividade, é companheiro infiel das brincadeiras do sono. Ao primeiro grito do rádio-relógio, lá se vai, infante, esconder-se e ainda que tente procurá-lo, acabo sempre por perdê-lo. O rádio se cala e é o silêncio que vence a intricada trincheira dos meus olhos e tudo o que era som está repleto de tudo o que não é bom humor. São seis horas da manhã e o calor é de meio-dia no deserto.

O céu, muito azul, seria uma alegria caso o tempo não voltasse a me encontrar na descida da ladeira, agora vestido com as roupas da última coleção primavera/verão-escaldante. Ele quer me ver sorrir, mas desvio o olhar para a estação de metrô ao longe. Conto os trens: faltam três para “o-das-sete-e-meia-que-vem-vazio-e-dá-para-sentar”. Novamente, o tempo, em sua capa de sucessividade, reúne seus soldadinhos para brincar de luta: a interminável ladeira de pedras indóceis, a rua erma e a inacreditável fila do metrô. Não conseguirei vencê-los e sei que irei em pé até a Sé.

Um dia, ainda verei o tempo nu, sem caras e máscaras ou capas, exposto ao ridículo e à vingança dos muitos que azucrinou. Penso em submetê-lo a castigos, trancafiá-lo em relógios de ponto afiados e cortantes. Mas eis que surge o dito vestido de brisa e brinca com meus cachos mal penteados. Num sopro mais forte, vestido de vento, o tempo levanta minha saia e alisa minhas coxas, fazendo-me rir. O homem do pão que encontro há tempos, nessa mesma hora, no mesmo ponto da ladeira, também se alegra.

Não divido meu riso com os olhos gulosos do homem que não come o pão que vende. Rio para o tempo, levado e sem jeito, sempre disposto a me fazer esquecer os seus mal feitos. O riso se alarga, penso até que terei um bom dia apesar da certeza da feia cara feia da feia supervisora feia que não vê a hora de me transferir de setor, de cidade, de planeta. Mas o tempo muda, não é mais o vento macho e gentil e, sim, ventania-fêmea louca e ciumenta que arranca as folhas das árvores e levanta a poeira adormecida entre os paralelepípedos. Furiosa, traz pela coleira nuvens cinzentas enormes e grávidas que dão à luz um mundo de água.

Tudo o que fora azul, um pouco antes, está se diluindo em água. O tudo é um mundo embaixo d’água. Um mundo de água sobre a minha cabeça nesta manhã repentina como o dia e a noite do deserto. Alcançar o “oásis” da estação não traz alívio. Última da fila, tento desafogar meus dedos dos pés. Outros beduínos chegam, molhados como eu, “Bom dia”, “Que chuva!”, “Quem entende o tempo doido desta cidade?” Minha voz dormente não obedece ao mando da boa educação, tampouco quer discorrer sobre as tendências psiquiátricas do tempo dessa cidade maluca.

A chuva não me deixou escolhas e em mim ocupou o espaço da hospitalidade própria dos habitantes do deserto. Não posso abrigar a alegria, não posso servir ninguém. Só existo nos limites do meu corpo – só corpo ensopado. Nada de sentires, nem deixares. O tempo afogou-me em desumanidades e a palavra muda é a porta que não abre para o outro. Para tudo o que existe fora do que sou de carne.

Dentro da cabine, é a hora da solidão compartilhada sobre trilhos. Do não-olhar. O céu vai continuar sem se abrir para o azul que até já me esqueci que esperava, pois é cômodo me esconder atrás do cobertor do que penso enquanto meus olhos criam histórias para aqueles a quem observam disfarçadamente. Todos querem se livrar dos olhares no vazio e do barulho incessante do pensamento do seu vizinho de banco. Alguém me pergunta por gestos “Que horas são?”, respondo expondo os pulsos livres das correntes dos ponteiros.

Na Liberdade, as palavras começam a despertar em mim a contragosto. Embaralhadas, soltas na velocidade do que sou de idéias, tropeçam umas nas outras enquanto alguém tropeça em meu pé afogado. Com esforço, esboço um: “Desculpe”, é quase inaudível, mas já é quase humano. Agora, acho que já consigo pensar em uma desculpa inédita, enquanto o tempo-arlequim dança no relógio da estação anunciando o fim do carnaval: “Agora é ‘cinzas’”. Reviso mentalmente a lista dos parentes que já matei. Sempre resta um tio distante que foi cremado ontem à noite em uma cerimônia longa, em que tive de ficar de vigília ao lado de uma prima em terceiro grau.

A Liberdade é muito perto do Paraíso e isso quase nunca é um consolo. Essa proximidade dificulta a ordenação da palavra na fila burocrática do falar para um funcional “Bom dia” de repartição, seguido por uma lírica e cremada história para justificar o atraso de sempre. Na saída da estação, o tempo, de cara lavada pela chuva, veste azul claro. Do ponto em que me encontro até o “serviço” são duas esquinas, preciso urgentemente despertar a voz, ainda que ela só acorde no fim.

De alguma maneira temos que começar, todos.



Se não começar agora, este será mais um dos muitos que foram criados e largados de mão, como carta que se escreve e não se envia, que se posta mas se extravia. Pronto.Tá aí.

Vire a lata

Atrás do Trio Elétrico (pretensão e água benta...)

Quem sou eu